Santa Isabel de Portugal

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Santa Isabel de Portugal, contemplativa, penitente, pacificadora e de mãos abertas aos pobres

Isabel nasce em Saragoça, Espanha, em 1271, de Pedro III de Aragão e de Constança de Hohenstaufen. Na fonte batismal foi-lhe imposto o nome da santa tia-avó, rainha da Hungria. Depois do seu nascimento reconciliaram-se o pai e o avô, Jaime I de Aragão, o Conquistador, que até à morte quis assumir a educação dela.

Aos oito anos Isabel já tinha aprendido a recitar todos os dias a Liturgia das Horas, a socorrer os pobres e a praticar rigorosos jejuns. A sua infância foi de curta duração porque aos doze anos foi dada em esposa a D. Dinis, o Lavrador, rei de Portugal, fundador da Universidade de Coimbra e da Ordem de Cristo.

Na corte da casa real Isabel não negligenciou os bons hábitos adquiridos, mas também não menosprezou os novos deveres de rainha e esposa. Continuou a participar diariamente na missa matinal, a comungar frequentemente e a recitar o ofício. Após o almoço voltava à capela para terminar a Liturgia das Horas, ler obras espirituais e abandonar-se às orações.

O seu tempo livre era usado para confecionar paramentos para as igrejas pobres, com a ajuda das damas da corte. A estas boas obras outras acrescentava de mão a mão a quem passava necessidades públicas. Igrejas, hospitais e mosteiros beneficiaram da sua soberana generosidade; outras, ela própria fez construir, em Santarém e Coimbra.

A sua última fundação foi uma capela em honra da Virgem Maria no convento da Trindade, em Lisboa, primeiro santuário em que foi venerada a Imaculada Conceição. O terramoto de 1755 e o incêndio subsequente destruíram-no por completo e a nova reconstrução do edifício e cerca abrangeram terrenos que se estenderam até à atual Rua da Misericórdia. A extinção das ordens religiosas em 1834 e a dispersão dos frades determinaram o loteamento e a venda do edifício. Hoje é possível ver o antigo refeitório e uma parte do claustro na Cervejaria Trindade. Antes de morrer quis também instituir uma confraria intitulada da Santíssima Trindade.

Dado que o seu espírito estava sempre pronto para a contemplação, Isabel jejuava habitualmente três vezes por semana, toda a Quaresma, todo o Advento, e nas festas de S. João Batista à Assunção de Nossa Senhora. Nas sextas-feiras e sábados que precediam as festas da Virgem alimentava-se apenas de pão e água. Na sua sede de penitência ter-se-ia dado outras formas de austeridade, se o marido lho tivesse permitido.

Também a caridade de Isabel pelos pobres e nobres que haviam perdido os bens foi incomparável. Ao seu esmoler dá ordens para nunca mandar embora de mãos vazias quem tivesse necessidades. Faz enviar víveres a mosteiros pobres e a regiões atingidas pela adversidade; protege os órfãos; socorre os jovens em condições precárias; todas as sextas-feiras da Quaresma, depois de ter lavado e beijado os pés a treze pobres, fazia-os revestir de roupas novas; na Quinta-feira Santa cumpria a mesma obra a treze mulheres.

Em 1290 Isabel deu à luz uma filha, Constança, que foi dada em casamento a Fernando IV de Castela. No ano seguinte nasce o herdeiro do trono, Afonso IV, o Bravo. Pela sua família Isabel foi um verdadeiro anjo custódio. Não se satisfez em dar bons conselhos aos filhos, mas exortou também o marido a governar com justiça e brandura, sem dar ouvidos aos discursos vãos dos aduladores ou às falsas relações dos invejosos.

Todavia, após alguns anos passados na concórdia e na doce intimidade com Deus, começa para Isabel um verdadeiro calvário por causa dos amores ilícitos aos quais o rei, pouco a pouco, se abandonou. Isabel aflige-se mais pela ofensa a Deus do que a ela. Com doçura, procurou reconduzi-lo ao reto caminho e, sem se deixar tomar pelas lamentações. Levou o seu heroísmo ao ponto de cuidar da educação dos filhos de D. Dinis como se fossem seus. A nobreza, temendo que os bastardos do rei adquirissem demasiado ascendente no país, instigaram à revolta o filho herdeiro. Afonso veio a tomar as armas contra o pai, com a imensa dor de Isabel, que se alinhou ao lado do soberano e procurou, repetidamente, pacificar os dois adversários. Como eram surdos às suas exortações, multiplicou as orações, os jejuns e também as cartas de reprovação ao filho.

Entretanto, cortesãos mal intencionados fizeram crer ao rei que a sua consorte ajudava secretamente o filho rebelde. A calúnia ecoou no soberano, que privou Isabel da senhoria de Leiria, que lhe pertencia, e confinou-a ao forte de Alenquer. Numerosas figuras insignes do reino foram ao seu encontro para lhe oferecer os seus serviços, mas a santa preferia confiar-se às mãos da Divina Providência, em vez de permitir ser reintegrada nos seus direitos à custa das armas. O rei reconhecerá, por fim, que estava errado, chamou Isabel e deu-lhe como privilégio a cidade de Torres Vedras

A rainha continuou a trabalhar para que a sua família retomasse a paz. Ao tempo do cerco de Coimbra (1319) por parte do seu filho, a mãe deslocou-se a cavalo, entre os soldados das fações opostas, com um crucifixo na não, e conseguiu reconciliar pai e filho. No entanto a guerra recomeçou pouco tempo depois, mais violenta, em Lisboa. Isabel, que preferia a paz a todo o ouro do mundo, montou numa mula e lançou-se entre os dois exércitos para os exortar, com palavras e lágrimas, a assinar um acordo. Naquelas circunstâncias a santa obteve a pacificação para sempre entre as duas partes.

Isabel tinha iniciado a sua tarefa de pacificadora por ocasião das contendas entre o seu marido e o seu cunhado, o turbulento Afonso de Portugal, senhor de Portalegre, geradas por disputas de propriedade. A santa tinha evitado que chegassem a vias de facto cedendo a Dinis parte dos seus rendimentos, para o ressarcir das terras que tinha sido obrigado a ceder ao irmão. Também em Espanha a intrépida rainha conseguiu a paz, a fim de fazerem bloco na luta contra os mouros; com efeito, impede uma guerra entre o seu marido e o genro, Fernando IV de Castela.

Dinis veio a converter-se e passou junto a Isabel os últimos anos de vida. Após a sua morte (1325), Isabel renunciou ao mundo, cortou os cabelos e envergou o hábito da ordem terceira franciscana, tendo-se feito peregrina de Santiago de Compostela. Em sufrágio do rei defunto oferece ao santuário a coroa de ouro que tinha levado no dia do matrimónio, a par de outros bens valiosíssimos. O bispo da cidade deu-lhe um bastão de peregrino e uma bolsa, que a santa quis que a acompanhassem consigo no túmulo.

Logo depois de ter regressado à corte, fez fundir as suas pratas a favor das igrejas, distribuiu os diademas e insígnias reais entre a soberana Beatriz e os netos, e, em Coimbra, fez terminar a construção do mosteiro de Santa Clara. Nele tencionava terminar a sua vida, mas sacerdotes houveram que a demoveram dessa intenção por razões de Estado e para não privar muitos pobres das suas ajudas. Isabel satisfez-se em vestir sempre o hábito da penitência e de fazer construir junto ao mosteiro um espaço que a consentisse, com a permissão da Santa Sé, para onde se retirava com frequência para rezar, conversar e tomar refeições com as religiosas. Recebia os pobres, doentes e pecadores que a ela recorriam. Para todos tinha uma palavra de consolação e uma abundante esmola.

Em 1333 os habitantes de Coimbra foram atingidos por uma grave carência de alimentos, tendo sido obrigados a alimentarem-se de ratos. Sem dar ouvidos aos administradores dos seus bens, que lhe recomendavam parcimónia, Isabel fez comprar para eles grandes quantidades de suprimentos. Quando estava livre das obras de caridade, à noite, retirava-se para um aposento onde, longe dos olhares indiscretos, se abandonava às suas orações e contemplações. Outras vezes visitava os doentes do hospital que tinha feito construir em honra de Santa Isabel da Hungria e curava-os com as suas próprias mãos. No último ano de vida peregrinou, uma segunda vez, a Compostela, com duas mulheres. Quis fazer a pé a longa viagem, apesar dos seus 64 anos e mendigar de porta em porta o alimento diário.

No regresso, anunciaram-lhe que o seu filho, o rei de Portugal Afonso IV, e o seu neto, o rei de Castela Afonso, se tinham declarado guerra. Isabel deslocou-se a Estremoz na esperança de tirar da boca do filho palavras de paz para o neto, em Castela, mas uma violenta febre não lhe deixou qualquer esperança de vida. Faz o testamento na presença do filho e da nora, e recebeu o Viático entre suspiros e lágrimas, revestida com o seu hábito de penitência, ajoelhada, não obstante a extrema fraqueza, diante do altar do seu quarto. Morreu a 4 de julho de 1336, depois de ter recitado o Credo e murmurado “Maria, mater gratiae”. O seu corpo foi transportado para Coimbra e sepultado na igreja das Clarissas; na exumação efetuada em 1612 foi encontrado incorrupto.

Em 2016 assinala-se o quinto centenário da sua beatificação, pelo papa Leão X. Urbano VIII declarou-a santa em 1625. A sua memória litúrgica, obrigatória, assinala-se a 4 de julho. Santa Isabel é padroeira principal das cidades de Coimbra e Leiria.

Na igreja do mosteiro de Santa Clara-a-Nova, que substituiu o primitivo cenóbio das monjas clarissas, arruinado pelo rio Mondego, guarda-se a urna de prata e cristal, do séc. XVII, onde é venerado o corpo de Santa Isabel. O túmulo primitivo, em pedra, executado por Mestre Pêro em 1330, encontra-se no coro baixo da igreja. A primeira pedra do mosteiro de Santa Clara-a-Nova foi lançada a 3 de julho de 1649, tendo as suas obras sido prolongadas até ao final do séc. XVIII.Guido Pettinati


In “Santi e beati”
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 14.07.2016

texto disponível em www.snpcultura.org

Última modificação: 01/02/2021

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